A TRAGÉDIA ENXADRÍSTICA
Realizar
uma boa partida de xadrez, conquistando uma vitória, e perceber depois
de analisá-la as falhas cometidas é uma das tragédias da alma enxadrística. É
destruidora principalmente quando se reconhece que essa partida é a melhor que
se podia fazer. Entretanto, ao disputar uma partida é saber antecipadamente que
ela tem que ser imperfeita e com falhas; ao enfrentar um adversário em uma
competição e jogá-la percebendo que ela é defeituosa e falha, isto é o máximo
da tortura e da humilhação do espírito enxadrístico. Não só as partidas que
jogo sinto que não me satisfazem, mas sei que as partidas que estou para
disputar não me satisfarão, também. Sei tanto instintivamente, como doutrina
filosófica, por um pressentimento obscuro.
Por
que jogo xadrez então? Porque, especialista que sou da arte enxadrística, não
aprendi a compreendê-la plenamente. Não aprendi a abdicar da tendência para o
jogo romântico, tático e superficial. Tenho que jogar como cumprimento de uma
punição. E o maior castigo é o de saber que o que jogo resulta inteiramente
pueril, defeituoso e incerto.
Na
minha juventude jogava partidas românticas. Logo, praticava um péssimo xadrez,
mas julgava-o perfeito. Nunca mais tornarei a ter o falso prazer de produzir
uma partida perfeita. O que jogo hoje é muito melhor. É melhor, mesmo, do que
poderiam jogar os melhores mestres. Mas está infinitamente abaixo daquilo que
eu, não sei por que, sinto que podia, ou talvez seja, que devia, jogar. Hoje
termino em pranto revendo as minhas partidas da juventude, como a derradeira
esperança perdida.
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