Bobby Fischer falece na Islândia,
em exílio pela perseguição dos Bush
Robert James Fischer faleceu na quinta-feira em Reikjavik, Islândia, cidade de onde, em 1972, saiu como campeão mundial de xadrez e para onde voltou, mais de 30 anos depois, para abrigar-se da perseguição movida pelo governo norte-americano.
Sem dúvida, com exceção do cubano José Raúl Capablanca, nenhum campeão mundial de xadrez foi mais popular do que Bobby Fischer. Porém, apesar do parentesco de seus estilos, Fischer não era, como Capablanca, um jogador “intuitivo”. Ao contrário, era um jogador de erudição e conhecimento teórico colossais, que, numa época em que não existiam computadores pessoais nem Internet, era capaz de acompanhar e analisar as partidas de torneios locais no interior da Rússia, na Holanda, ou onde quer que fosse. Era também uma mente rigorosa, sempre exigindo precisão e sempre analisando e reanalisando seus próprios erros no tabuleiro.
Em 1972, quando venceu o então campeão Boris Spassky, foi saudado por toda a reação como seu herói, como o homem que, nas palavras do velho canalha Henry Kissinger, “bateu os russos”. Vinte anos depois, quando rompeu o bloqueio norte-americano à Iugoslávia, o governo de Bush-pai confiscou todas as suas propriedades, inclusive os direitos autorais (copyright) de seus livros, e decretou a sua prisão, efetuada em 2004, no Japão, dessa vez a pedido de Bush-filho.
Agora, falecido, novamente a mesma escória tenta se aproveitar da memória de Fischer, a começar pelo sujeito que ele mais desprezava, Garry Kasparov.
Entre 1992 e sua morte, Fischer foi pintado como louco – antes, quando inconscientemente serviu ao establishment americano, era um “gênio” – e como anti-semita. Isto, certamente ele não era: vide seu apoio aos palestinos, que, como os árabes em geral, são semitas. Sua mãe, Regina, militante de esquerda e talvez a influência mais duradoura de sua vida, era de origem judaica. E, em 1992, na Iugoslávia, a primeira pessoa que cumprimentou, com deferência, quando entrou na sala onde enfrentou Spassky pela segunda vez, foi um judeu, Andor Lilienthal, campeão soviético de 1940, cujo galardão mais famoso é o de ser um dos poucos jogadores a vencer o grande Capablanca.
Não eram as pessoas dos judeus que Fischer se referia em suas vilipendiadas entrevistas nas Filipinas, mas ao império feroz do dinheiro que domina os EUA e aos sionistas israelenses. Que ele haja sido impreciso ao atribuir aos judeus em geral essas mazelas, não lhe retira o verdadeiro conteúdo. Mas é verdade que essas imprecisões abriram espaço para que alguns piolhos se aproveitassem delas para difamá-lo.
No entanto, o indicador mais seguro de qual era sua verdadeira posição é o ódio dedicado a ele por seus inimigos – em primeiro lugar, a mídia norte-americana e seus pajens de outros países, os Bush, e alguns outros patifes a la Kasparov.
Bobby Fischer será lembrado para sempre como um dos maiores jogadores de xadrez que já existiram – e também como um homem que esteve à procura da verdade, não importa que, muitas vezes, nessa procura, tenha entrado em descaminhos tremendos.
O que importa é que jamais desistiu. Ele não teve uma vida fácil. Mas, ao encerrá-la, havia escolhido o lado certo no bom combate. E, como disse o poeta, “tudo está bem quando termina bem”.
Fonte: http://www.horadopovo.com.br/2008/janeiro/2635-23-01-08/P6/pag6e.htm
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